A constipação intestinal (o famoso intestino preso) é um problema comum, especialmente em gestantes, idosos, pessoas que usam algumas classes de medicações continuamente e pessoas com dietas pobres em fibras. Além do desconforto abdominal, a constipação pode piorar ou predispor ao surgimento de varizes, especialmente em regiões como as pernas, a pelve e a região anal (hemorroidas).
Abaixo, explico detalhadamente os mecanismos pelos quais a constipação interfere:
- Aumento da Pressão Intra-Abdominal
A constipação faz com que a evacuação se torne mais difícil, exigindo esforço excessivo e aumento da pressão intra-abdominal. Isso ocorre por dois mecanismos principais:
Aumento da resistência ao fluxo venoso:
- As veias do abdômen e da pelve drenam sangue para a veia cava inferior, que leva esse sangue de volta ao coração.
- Quando há esforço evacuatório intenso, a pressão no abdômen comprime as veias abdominais e pélvicas, dificultando o retorno do sangue das pernas para o coração.
- Esse fenômeno aumenta a estase venosa (acúmulo de sangue nas veias das pernas e da pelve), levando à dilatação das veias e ao agravamento das varizes.
Refluxo venoso e disfunção valvular:
- A pressão crônica sobre as veias do abdômen pode sobrecarregar as válvulas das veias da pelve e das pernas, tornando-as incompetentes (incapazes de fechar adequadamente).
- Isso facilita o refluxo venoso (o sangue flui no sentido contrário, aumentando a pressão nas veias das pernas).
Consequência: Varizes mais dilatadas, sensação de peso e inchaço nas pernas, dor e piora da insuficiência venosa crônica (IVC).
- Impacto na Microcirculação e Inflamação Venosa
A constipação crônica pode levar a um estado de inflamação sistêmica de baixo grau, que prejudica a integridade dos vasos sanguíneos.
- O acúmulo de fezes no intestino pressiona estruturas venosas da pelve, reduzindo a oxigenação dos tecidos e favorecendo processos inflamatórios nas veias.
- Esse quadro inflamatório pode aumentar a fragilidade capilar e a permeabilidade vascular, levando a inchaço e edema nas pernas, piorando os sintomas da insuficiência venosa.
- Desenvolvimento e Agravamento de Hemorroidas (Varizes Anorretais)
As hemorroidas são varizes na região anal e são diretamente agravadas pela constipação.
Mecanismos:
– O esforço para evacuar com frequência dilata as veias hemorroidárias (plexo venoso do reto).
– O aumento da pressão intra-abdominal gera uma estase venosa na região, favorecendo o inchaço das hemorroidas.
– A compressão contínua dessas veias pode causar inflamação, dor, prurido e sangramento anal.
Consequência: Se a constipação não for tratada, as hemorroidas podem evoluir para prolapso hemorroidário (quando as hemorroidas saem para fora do ânus) ou trombose hemorroidária (quando um coágulo se forma dentro da hemorroida).
- Constipação, Varizes Pélvicas e Congestão Venosa
A constipação pode contribuir para a Síndrome da Congestão Pélvica (SCP), que ocorre quando há varizes na pelve, afetando veias ovarianas e ilíacas.
Mecanismos:
– A pressão crônica sobre as veias pélvicas, causada pela retenção fecal, pode impedir a drenagem normal do sangue e favorecer a formação de varizes na pelve.
– O fluxo venoso comprometido leva à dilatação das veias e a sintomas como dor pélvica crônica, sensação de peso e varizes vulvares — sintomas: dor no abdome inferior, dor à relação sexual (dispareunia), sensação de peso constante na região do “baixo ventre”.
– A hipertensão venosa na pelve pode repercutir nas veias dos membros inferiores, agravando as varizes nas pernas.
Consequência: Varizes pélvicas podem ser extremamente sintomáticas e difíceis de tratar, sendo potencialmente incapacitantes.
- Como Melhorar a Constipação e Reduzir o Impacto nas Varizes?
– Aumentar o consumo de fibras – Frutas, legumes, cereais integrais e sementes ajudam a manter o trânsito intestinal adequado.
– Aumentar o consumo de água – A hidratação facilita o amolecimento das fezes e reduz o esforço evacuatório. Regra simples: 30 a 40 ml por kg de peso. Multiplique seu peso por 30 para obter o volume mínimo de água a ser ingerida diariamente.
– Praticar atividade física regularmente – Exercícios aeróbicos, como caminhada, ajudam no funcionamento intestinal e na circulação venosa. Atividades que estimulem e fortaleçam o abdome e a musculatura do CORE.
– Evitar esforço ao evacuar – O ideal é evacuar sem necessidade de forçar excessivamente.
– Não fazer manobra de Valsalva ao evacuar, ou seja, não prender o ar ao fazer força.
– Evitar alimentos constipantes – Embutidos, ultraprocessados e excesso de laticínios podem dificultar o trânsito intestinal.
– Uso de probióticos – Melhoram a microbiota intestinal, reduzindo a inflamação e favorecendo um trânsito intestinal regular.
– Elevar as pernas e usar meias de compressão – Auxilia o retorno venoso e minimiza o inchaço e a sobrecarga das veias.
– Em caso de cirurgias abdominais prévias, fraqueza importante da musculatura abdominal ou hérnias extensas na parede abdominal, procure um cirurgião geral para avaliar o impacto que isso possa estar causando na sua função intestinal.
– E o mais importante: ter hábitos diários que ajudem a função intestinal — diariamente, sente-se ao vaso sanitário com ou sem vontade, de preferência sempre no mesmo horário. Utilize bancos que deixem os joelhos levemente acima do quadril (o chamado banco de cócoras), que altera a inclinação da pelve e facilita o deslizamento e posterior saída das fezes.
A constipação é um fator agravante das varizes, pois aumenta a pressão intra-abdominal, prejudica a circulação venosa e favorece a estase venosa. Além disso, contribui para o desenvolvimento de hemorroidas, varizes pélvicas e insuficiência venosa crônica.
Controlar a constipação por meio de mudanças na dieta, hidratação, atividade física e hábitos é essencial para prevenir e minimizar o impacto das varizes. Em caso de dúvidas ou para orientações, consulte um especialista.